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13/09/2022ㅤ Publicado às 13:50

Professora titular da UFPA e conselheira federal suplente pelo Pará, Ana Claudia Cardoso proferiu a palestra “Onde vivem as pessoas na Amazônia? Tríade: cidade, campo e floresta” na abertura do Seminário de Meio Ambiente do CAU Brasil

 

A professora Ana Claudia Cardoso e a conselheira Josélia Alves

O processo de urbanização da Amazônia é um mistério e, para entendê-lo, é preciso compreender a história e levar em conta o conjunto do território da floresta, para além dos limites das cidades. Com esta prerrogativa, a arquiteta e professora titular da UFPA, Ana Claudia Cardoso, iniciou a Palestra Magna “Onde vivem as pessoas na Amazônia? Tríade: cidade, campo e floresta” na abertura do Seminário Nacional de Meio Ambiente do CAU Brasil, no dia 8 de setembro, em Rio Branco, no Acre.

 

Natural de Belém do Pará, Ana Claudia Cardoso é conselheira federal suplente pelo estado do Pará e graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFPA. Mestre em Planejamento Urbano e Desenho Urbano pela UnB, é PHD em Arquitetura pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. Atuou na capacitação de movimentos sociais, na administração pública e na pesquisa multidisciplinar. 

 

A professora falou sobre a invisibilidade da rede urbana e da população da Amazônia, território que tem ocupação humana documentada há cerca de dez mil anos. “Pouca gente entende o que acontece aqui. O que acontece no subsolo, todo mundo tá de olho. Mas o que acontece debaixo das árvores, no chão, onde a gente vive, é um grande mistério”, afirmou a pesquisadora. 

 

Ana Claudia apresentou uma síntese de pesquisas desenvolvidas por especialistas que compuseram o Relatório de Avaliação do Painel Científico para a Amazônia (SPA)

 

A pesquisadora estuda tipologias espaciais, padrões de urbanização e a sociobiodiversidade da Amazônia e apresentou, durante a palestra, uma síntese de pesquisas desenvolvidas por especialistas que compuseram o Relatório de Avaliação do Painel Científico para a Amazônia (SPA). A iniciativa da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (SDSN-UN) envolveu mais de 200 cientistas e pesquisadores proeminentes dos oito Países amazônicos, Guiana Francesa e parceiros globais. 

 

Em busca de novas e originais narrativas sobre o território, o grupo se dedica a levantar dados que possibilitem compreender a complexa realidade amazônica, acolhendo saberes dos povos indígenas e outros atores que vivem e trabalham na Amazônia. As pesquisas vêm permitindo desmistificar interpretações equivocadas e historicamente difundidas sobre a ocupação amazônica. “A partir do século 20, se passou a acreditar que os indígenas eram bibelôs da floresta. Nada mais falso. As pesquisas com arqueologia, etnologia e eco paleontologia tem mostrado que aqui nós tínhamos soluções extremamente interessantes”, afirmou a pesquisadora, trazendo como exemplo de arranjo urbanístico de baixa densidade uma aldeia indígena local. “Isso nos mostra uma outra forma de pensar o urbanismo e é uma resposta que o século 21 pode encontrar para a situação de colapso da experiência desenvolvimentista que foi imposta à Amazônia”, disse.

 

Paisagem manejada de aldeia indígena amazônica com 50 mil habitantes, equipada com quintais, roças, diques de navegação, rotas terrestres de interligação 

 

A professora contextualizou como as relações peculiares de exploração, geografia e outros aspectos culturais diferenciam a Amazônia de outras regiões do país. Também apontou a desconexão entre as políticas públicas, como as habitacionais, com a realidade amazônica. “Quando um ribeirinho vem para um (projeto) Minha Casa Minha Vida no finalzinho da cidade, sem terreno para plantar, que é o que ele sabe fazer, chega como um desqualificado. Estas cidades não vem com uma dinâmica que traga empregos”, exemplificou. “Tudo está acontecendo na Amazônia quando o capitalismo mudou. Ele não gera mais empregos como era no século 20. Aqui, a cidade não vai crescer com a industrialização, como aconteceu com São Paulo”, completou. 

 

Ana Claudia propôs a reflexão sobre a colonização brasileira e, em recorte, como ela ocorreu na linha do tempo do território amazônico. A pesquisadora recordou a repressão da revolta da Cabanagem, que arregimentou  pessoas mestiças e indígenas, comerciantes e fazendeiros para lutar pela emancipação da província do Grão-Pará (atualmente Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia). Mais recentemente, sob o governo militar, segundo a pesquisadora, o território amazônico sofreu um processo de isolamento que favoreceu a exploração. “Essa nova edição da colonização foi baseada numa abstração que separa cada vez mais o espaço da vida das pessoas”, afirmou. Para a professora, é uma narrativa racista para justificar uma racionalidade sobre o território. “Se eu nego a cultura de alguém, eu sou racista, e isso está impregnado na nossa formação em Arquitetura e Urbanismo, nas nossas políticas públicas e na nossa maneira de ver o mundo”, disse a professora.

ACESSE A APRESENTAÇÃO DA PESQUISADORA NA ÍNTEGRA

 

ASSISTA À PALESTRA:

 

SOBRE O SEMINÁRIO

 

O Seminário Nacional de Meio Ambiente – Urbanização e mudanças climáticas: desafios para cidades resilientes na Amazônia é uma realização do CAU Brasil através da Comissão de Política Urbana e Ambiental. O evento aconteceu entre 8 e 10 de setembro no auditório do Sebrae em Rio Branco, no Acre, e faz parte da agenda de encontros regionais promovidos pela CPUA. Com o Seminário, o CAU pretende posicionar os arquitetos e urbanistas brasileiros diante de temas estratégicos para a preservação da Amazônia. O principal objetivo é a estruturação do Projeto Amazônia, uma proposta de ação a ser apresentada ao Congresso Internacional UIA 2023, em Copenhague/DK. Saiba mais no hotsite www.caubr.gov.br/seminariomeioambiente 

 

 

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