Nota sobre a tragédia no litoral de São Paulo

Desde o último domingo, assistimos perplexos os episódios que se sucederam no litoral norte do Estado de São Paulo. O caos provocado pelos deslizamentos de terra nessa região não é um fato isolado, infelizmente fazem parte de uma série de episódios recorrentes que assolam nosso país, principalmente nessa época do ano, quando as chuvas chegam com abundância.
Inevitavelmente variamos os cenários ao longo dos anos, mas a certeza de que um evento climático extremo provoque destruição é cada vez mais presente em nosso cotidiano.
Os problemas começam de um mesmo ponto de partida, que reside no fenômeno da urbanização brasileira, caracterizada pela concentração populacional acelerada e desigual nas cidades, que favorecem o cenário de segregação no espaço urbano, uma vez que as condições de acesso a moradia digna não é homogênea para todos. Essa segregação manifesta-se nos processos de ocupações irregulares muitas vezes situadas nas beiras de rios e nas encostas íngremes.
E o que isso tem a ver com a arquitetura e urbanismo? Tudo. A partir da ocorrência desses eventos, a questão do planejamento urbano volta à tona, e nos recordamos que só ele é capaz de encontrar as soluções para uma urbanização que estabeleça uma relação harmônica entre o homem e a natureza, em que cada vez haja menos espaço para que os desastres ocorram. O Arquiteto tem papel preponderante neste cenário a medida que atua diretamente na definição das formas de apropriação dos espaços naturais e urbanos.
É preciso reforçar que medidas de prevenção ao risco geotécnico, mudanças climáticas, planejamento territorial, controle urbanístico e políticas públicas integradas não são apenas necessárias, mas urgentes no Brasil.
Lamentamos a ocorrência desta tragédia, nos solidarizamos com todas as vitimas e familiares que foram atingidos direta ou indiretamente, e nos colocamos a disposição para auxiliar no que couber às nossas competências, sobretudo a que trata de pugnar pelo aperfeiçoamento da arquitetura e urbanismo, com vistas a garantir à sociedade o desempenho do nosso ofício com o rigor necessário para que cenas como as vivenciadas nos últimos dias não voltem mais a ocorrer.